31.3.12

Macrobiótica





Boa parte dos que apenas ouviram falar da macrobiótica associam-na a um regime alimentar especial, sem contudo o distinguir de outros regimes dietéticos (ex: vegetarianos, ovo-lacto-vegetarianos,etc.). Na realidade, a macrobiótica, que se baseia em certos princípios filosóficos de origem oriental, é a procura, através da higiene alimentar, de uma verdadeira saúde fisica, mental e espiritual.

A palavra macrobiótica deriva do grego "macros" (grande) e "bios" (vida). Na sua história devem-se destacar dois nomes que foram muito importantes: George Ohsawa, seu fundador, e Michio Kushi, que a desenvolveu nos EUA e a divulgou por todo o mundo, incluindo Portugal. Alguns dos actuais praticantes e divulgadores no nosso país aprenderam pessoalmente com o próprio Michio Kushi.

A filosofia em que se baseia afirma que o nosso organismo, tal como o universo é gerido por dois princípios opostos, complementares e que se alternam entre si: yin e yang. O primeiro representa o frio, o interior, o seco, o fraco, o escuro; o segundo representa as propriedades de calor, exterior, húmido, excesso, claro. Esta alternância de yin/yang exerce-se ao nível dos orgãos vitais e nos alimentos. Na prática, isto significa que cada um de nós tem características predominantemente yin ou yang.

Por exemplo e, de uma forma muito sumária, os indivíduos yin são de um modo geral gordos, calmos, com pés e mãos pequenos, dormem bastante, gostam de açúcar, têm bastante apetite, etc.. Ao invés, quem é predominantemente yang, é magro, vivo, tem mãos e pés grandes, dorme pouco, gosta de sal, etc. E, embora todos nós tenhamos características mistas (yin e yang), há sempre uma prevalência de uma delas o que determinará, segundo a macrobiótica, a escolha alimentar mais adequada, de forma a atingir o equilíbrio pretendido.



Assim temos alimentos considerados yin e outros que são classificados yang:

    - Alimentos yin: milho, centeio, aveia, cevada, beringela, tomate, pimento, favas, pepino, espargos, espinafre, alcachofra, abóboras, cogumelos, ervilhas, beterraba, alho, couve-roxa, couve-flor, lentilhas, polvo, pescada, truta, porco, vaca, iogurte, natas, manteiga e margarinas, frutos frescos, mel, açúcares, café, vinho, cerveja, chá verde, tília, hortelã-pimenta, camomila;
    - Alimentos yang: arroz, milho-miúdo, trigo, alface, repolho, alho-porro, grão-de-bico, rabanete, nabo, cebola, salsa, cenouras, agrião, linguado, atum, salmão, camarão, sardinhas, pato, peru, ovos, leite, queijos, amêndoa, azeitonas, óleos vegetais não refinados, alecrim, malte, chá mu, vinagre, mostarda, baunilha, açafrão, sal marinho não refinado.

Para além das características yin ou yang dos alimentos, também é conveniente ter em atenção os cinco sabores básicos em que eles se dividem: ácido, amargo, doce, picante, salgado. As substâncias picantes podem activar a energia e fazer circular o sangue, as substâncias amargas auxiliam na eliminação das toxinas, as doces melhoram a qualidade do sangue e os ácidos activam a circulação. Por outro lado, os diferentes sabores aumentam a energia do órgão correspondente quando ingeridos em quantidades moderadas (em excesso tem o efeito inverso). Isto significa que o ácido estimula o figado, o amargo o coração, o picante os pulmões e o salgado os rins.

Para a macrobiótica o equilíbrio entre todos estes factores é fundamental e a organização da dieta deve ter em atenção a quantidade de alimentos yin e yang, que deve ser a mesma ou estar adaptada às características pessoais. Para um melhor equilíbrio deve dar-se preferência aos alimentos de natureza pouco yin e pouco yang; quando se utilizam alimentos fortemente yin é mais dificil equilibrá-los com os fortemente yang. Para além da natureza, os alimentos também devem ser escolhidos de modo a fornecerem ao longo do dia os cinco sabores.

A macrobiótica aconselha como prato principal uma associação de cereais integrais em grão, leguminosas e sementes, que devem constituir, no seu conjunto, pelo menos 50% da ração diária. A fracção restante deve ser composta por legumes, vegetais e produtos animais (mais peixe que carne), sendo a proporção de 7 partes de alimentos de origem vegetal para 3 de alimentos de origem animal.



Para além disto o método macrobiótico inclui ainda outros aspectos importantes:

    - As refeições não devem ser demasiado abundantes e todos os alimentos devem ser mastigados e ensalivados cerca de 50 vezes;
    - Às refeições basta ingerir um copo de líquido e, de um modo geral a ingestão de bebidas deve ser apenas a necessária para saciar a sede;

    - Na preparação da comida devem evitar-se os utensílios de cozinha feitos de alumínio bem como os alimentos industrializados que contenham conservantes, aromatizantes ou tenham sido produzidos com o uso de fertilizantes, pesticidas, etc.;

    - Alimentos provenientes da fauna e flora locais e tradicionais devem ser preferencialmente consumidos;

    - Açúcares, alimentos de origem animal, café, especiarias, tabaco devem ser total ou parcialmente evitados.

    - Fazem parte importante deste regime, para além dos alimentos acima indicados, as algas marinhas, o Miso o Tofu e o Tamari (extraídos da soja), Chá 3 anos e Chá Mu, Gomásio e Tahini (extraídos do gergelim), Feijão Azuki, entre outros.

Ao ser divulgada em Portugal na década de 70, a macrobiótica teve a virtude de nos alertar para as vantagens de uma alimentação mais integral, mais vegetal, em suma, mais natural. Contudo, salvo casos muito particulares, ela não deve ser de tal forma restritiva que provoque um emagrecimento exagerado ou até fraqueza fisica. No entanto, alguns dos princípios macrobióticos podem ser úteis, até porque convém não esquecer que, muitos dos nossos problemas fisiológicos se devem a incorrecções e excessos alimentares. 

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