13.7.12

Intuição








Quando pela primeira vez conhecemos o poder Superior do Universo, perguntamo-nos como podemos entrar em contacto com ele, ou ter de novo acesso a ele. Acima de tudo, se existe uma Sabedoria Superior com um conhecimento mais profundo do que aquele que conhecemos vulgarmente, e se podemos contacta-lo, aceder a ele, devemos ser capazes de receber instruções preciosas para vivermos bem neste mundo tão conturbado. Podemos aceder ao poder que existe em cada um de nós, através daquilo que chamamos vulgarmente de Intuição. Ao apreendermos a pôr-nos em contacto, a ouvir e agir de acordo com a nossa intuição, podemos ligar-nos ao poder Supremo do Universo e deixá-lo tornar-se na força que nos guia.

É aqui que nós nos encontramos em total contradição com a vida, tal como nos ensinaram a vivê-la no antigo mundo. A civilização ocidental ensinou-nos o respeito e mesmo o culto do racional e do lógico no nosso ser e a rejeição, o desprezo e a negação da nossa Intuição. Atribui-mos aos animais a faculdade de compreender as coisas que ultrapassam de longe a sua capacidade racional; chamamos a isso instinto. Trata-se contudo de um mistério que desafia qualquer explicação lógica. No entanto, encolhemos os ombros e consideramos esta faculdade muito inferior à magnífica capacidade humana de raciocinar.

Todo o sistema de valores da nossa cultura assenta firmemente na crença de que o princípio racional é superior e constitui, de facto, a verdade absoluta. A tradição científica ocidental tornou-se a nossa religião. Fomos ensinados desde a mais tenra infância a sermos racionais, lógicos e consistentes; a evitar os comportamentos emocionais e irracionais; a não deixar transparecer os nossos sentimentos. Ou melhor, sentimentos e emoções são considerados como símbolos de estupidez, de fraqueza e aborrecimento. Pior ainda, temos medo que eles ameacem o próprio sistema da nossa sociedade civilizada.

As nossas instituições religiosas alimentam este medo do eu intuitivo e irracional. Noutros tempos baseadas na profunda consciência da presença, em cada ser humano, do princípio Universal do Criador, numerosas religiões já não honram esta ideia, a não ser da boca para fora. Em vez disso procuram controlar o comportamento dos seus fiéis, utilizando estruturas elaboradas de regras destinadas a salvar as pessoas da natureza profunda, irracional e fundamentalmente “pecadora”. E de acordo com numerosas disciplinas psicológicas, é preciso controlar o instinto natural do homem, pois é obscuro e perigoso. Partindo desse ponto de vista, apenas a razão pode subjugar esta força misteriosa e canaliza-la para uma via sã e construtiva.

De uma maneira geral as sociedades tecnicamente menos desenvolvidas, têm uma aproximação da vida feita através da consciência e respeito profundo pela parte intuitiva da existência. Cada instante do eu quotidiano é guiado por um forte sentido de relação com a força Criadora. A evolução do homem parece querer mostrar quanto mais a nossa capacidade racional progride, mais nós nos tornamos desconfiados face ao lado intuitivo da nossa natureza. Tentamos controlar esta “força obscura” criando estruturas de regras autoritárias, que definem de uma maneira muito penosa o verdadeiro e o falso, o bem e o mal, o comportamento correcto e incorrecto. Justificamos esta aproximação rígida da vida culpando tudo o que não é racional na nossa natureza, desde os nossos dramas emotivos pessoais, até as doenças da sociedade, como a droga, o crime, a violência e a guerra.

No entanto, a partir do momento em que aceitamos a realidade do poder que opera no Universo canalizado em nós através da intuição, torna-se evidente que os nossos problemas pessoais e as desordens do mundo são de facto caudadas pelo não respeito pela inteligência intuitiva interior. Quanto mais desconfiamos do nosso eu interior e mais o abafarmos, mais nos arriscamos a que ele se manifeste brutalmente e de maneira desgovernada. Dito por outras palavras, tais problemas não nos mostram a natureza emocional e não racional a tornar-se violenta e incontrolável, mas, pelo contrário, mostram-nos que tanto os problemas pessoais como sociais são o resultado do nosso medo e da supressão da nossa Intuição.

A nossa mente racional é como um computador: trata os dados recebidos e calcula as conclusões lógicas a partir dessa informação. Mas a mente racional tem as suas limitações, ela só pode avaliar a partir de dados que recebe directamente. Por outras palavras, a nossa mente racional só pode operar com base nas experiencias directamente vividas por cada um, na sua vida.

Pelo contrário, a mente intuitiva parece ter acesso a uma fonte infinita de informações. Parece ser capaz de atingir um reservatório imenso de conhecimentos e de sabedoria, a Mente Universal. É mesmo capaz de separar esta informação e de nos fornecer exactamente aquilo que precisamos. Mesmo que as mensagens cheguem aos poucos, se aprendermos a seguir esses suplementos de informação, peça por peça, o necessário curso de acção acabara por se revelar. Á medida que aprendemos a confiar nesta orientação, a vida torna-se mais fluida e fácil. A nossa vida, os nossos sentimentos e acções interagem harmoniosamente com aqueles das pessoas que nos cercam.

É como se cada um de nós tocasse um instrumento único numa enorme orquestra sinfónica, dirigida por uma Inteligência Universal. Se tocarmos a nossa própria partitura sem as indicações do maestro ou dos restantes elementos da orquestra, provocamos um caos total. Se nos procurarmos ajustar aos nossos vizinhos em vez de o fazermos com o maestro, será impossível atingir a harmonia – somos muitos e todos tocamos coisas diferentes. O nosso intelecto não é capaz de processar tanta informação e decidir em cada momento qual é a melhor nota a tocar. Ma se estivermos atentos ao maestro e seguirmos as suas indicações, experimentamos a alegria de tocar a nossa própria partitura, que é única e que todos podem ouvir e apreciar, e, ao mesmo tempo, apercebermo-nos de que fazemos parte de um grande todo harmonioso.

Quando aplicamos esta analogia às nossas vidas, apercebemo-nos que a maioria de nós não está consciente de existência de um maestro. Vivemos o melhor que sabemos utilizando apenas o intelecto para compreender as nossas vidas e calcular o melhor caminho a seguir. Se formos honestos connosco admitiremos rapidamente que guiados apenas pelo nosso espírito racional, não tocamos uma música muito bonita. A dissonância e o caos nas nossas vidas, assim como no mundo, reflectem indiscutivelmente a possibilidade de viver dessa maneira.

Ao estabelecermos ligação com a nossa Intuição permitindo que ela se torne na força que guia as nossas vidas, permitimos que o maestro ocupe o lugar que lhe compete, o de líder da orquestra. Em vez de perdermos a nossa liberdade individual, receberemos o suporte de que precisamos para exprimir de uma maneira eficaz a nossa individualidade. Além disso sentiremos o prazer de experimentar fazer parte de um enorme canal criador.

Não compreendendo completamente o funcionamento admirável da intuição, sabemos claramente, através das nossas experiencias, da observação e testemunhos de outras pessoas, que a intuição funciona dessa maneira.

O universo apresenta-se sob aspectos pessoais e impessoais: quanto mais nos abandonamos e temos confiança, mais a nossa relação com esse poder Superior se torna pessoal. Conseguimos literalmente sentir uma presença dentro de nós que nos guia, nos ama, nos ensina e nos encoraja. Neste aspecto pessoal o Universo pode revestir a aparência de um professor, um guia, um amigo, uma mãe, um pai, um amante, um criador, uma fada madrinha ou um génio. Noutros termos, tudo aquilo de que necessitamos e tudo aquilo que desejamos pode realizar-se através dessa conexão interior. Raramente nos sentimos sós. De facto, é muitas vezes na solidão física que encontramos uma comunhão mais intensa com o Universo. Nesses momentos, o vazio dentro de nós preenche-se de Luz. Sentimos, então, uma presença constante que nos guia, nos diz onde devemos ir e nos ajuda a aprender as lições em cada um dos passos do nosso caminho.

E quanto mais confiamos e seguimos essa “voz” interior, mais fácil, rica e apaixonante é a nossa vida.


Namasté