23.4.12

Tornar-se Vegetariano






Na maior parte dos casos, quem decide tornar-se vegetariano ou vegano, depara-se com resistências ou objecções por parte de amigos, familiares, colegas e mesmo desconhecidos.


Repentinamente, a maioria das pessoas que rodeiam o novo vegetariano, tornam-se pretensamente numa espécie de sábios acerca de nutrição humana, zoologia, antropologia e biologia em geral com tendência a bombardearem-no com dogmas, ideias feitas, tradições e supostos factos médicos como se ele fosse um perfeito ingénuo, um tonto desinformado que tomasse uma decisão mentalmente pouco sã de ânimo leve e por razões desprezíveis e até ridículas como o bem estar de animais não-humanos ou prevenção de doenças cancerígenas, por exemplo.

Porquê? Quais serão as razões pelas quais quem consome produtos de origem animal se acha no direito (e dever) de interferir, criticar, proibir (no caso de menores de idade e, recentemente, mesmo em parte do sistema escolar francês, por exemplo) quem deseja deixar de o fazer? O que motiva atitudes tão agressivas que muitas vezes abalam profundamente a paz familiar, as relações de amizade, a harmonia laboral? Porquê, se, até aí, provavelmente pouco ou nada se importaram com a alimentação que essa pessoa fazia; porquê se a grande maioria das doenças das sociedades ocidentais advêm de hábitos alimentares precisamente não-vegetarianos/veganos?

Podemos inferir que a cultura do consumo de carne, peixe, lacticínios e todos os restantes derivados de animais está tremendamente enraizada na mentalidade e hábitos da população que muitos não conseguem sequer conceber uma refeição inteiramente vegetal, muito menos aceitá-la como saudável e nutricionalmente bem superior às convencionais.

A crença da necessidade física de ingerir carne, leite animal, etc. aliada ao quase total desconhecimento e desinformação sobre o que é realmente o vegetarianismo— uma alimentação saudável, ética, ecologicamente responsável baseada no consumo de grãos, frutas, cereais, sementes e legumes— dá origem a desconfiança, estranheza, indica até implicitamente que a pessoa sofrerá de algum problema psicológico, que foi submetida a uma espécie de lavagem cerebral, que é algo fora da normalidade e que se presta a diversas críticas destrutivas.

Devido à intensa pesquisa académica que a maioria dos vegetarianos faz antes e durante a transição para esta alimentação e estilo de vida e mesmo depois, adquire-se uma visão do mundo diferente da convencional, por exemplo, com informações sobre as condições e manuseio de animais e derivados destinados a consumo humano, doenças associadas ao consumo de produtos animais, as vantagens de uma alimentação vegetal para o ambiente e prevenção de doenças que não são comummente veiculadas pela comunicação social convencional, uma vez que grande parte da economia mundial no momento atual assenta na exploração dos animais e não há interesse em denunciá-la, nem sequer em nome de valores éticos e morais.

Portanto, a veiculação desse tipo de informação real, mas frequentemente macabra e chocante, causa repelência por parte de quem a está a saber pela primeira vez, que, geralmente prefere ignorar e continuar a colocar o capricho do paladar à frente do sofrimento de seres sencientes ou então atacar de forma agressiva ou trocista quem a dá a conhecer. Felizmente também há quem se aperceba e aceite que é urgente atuar e tornar-se vegetariano, bem como continuar a divulgar todas as vantagens inerentes.

Por vezes, estas atitudes levam a que o novo vegetariano desista da sua opção, se torne incansável na necessidade de se justificar ou mesmo que deixe de se relacionar com quem come animais e derivados. Outras vezes, simplesmente prefere ser discreto em relação à alimentação que faz, não a anunciando quando não tem de o fazer nem a escondendo deliberadamente pois não se trata de uma “atividade” ilegal! Raras vezes é completamente aceite sem confrontações, perguntas agressivas e provocadoras cujo intuito não é de todo ser esclarecido, mas, precisamente, criar conflitos.

Como agir, reagir, interagir com os demais nestas situações, quando se pretende manter a paz, não perder amizades, participar em eventos e festas familiares tradicionais, enfim, socializar como a maioria? Como responder a quem tem genuinamente curiosidade e deseja partilha de informação, debate educado e esclarecedor e a quem, pretensamente, sabe tudo sobre nutrição, exceto a vegetal?

O bom-senso, o positivismo, o humor são boas atitudes acerca da forma de encarar o assunto. Consoante a situação, é desejável que quem deseja ser realmente informado, o seja por meios disponíveis: se mostrar imagens chocantes pode muitas vezes despertar consciências e “acordar” alguns para a realidade, elas também funcionam inversamente, causando repugnância, incredulidade e agressividade para outros. Pode-se, em vez disso, pesquisar documentos médicos acerca das vantagens do vegetarianismo para a saúde, por exemplo.

Não valerá perder muito tempo com quem apenas pergunta os porquês do vegetarianismo como forma de provocação ou com atitudes conflituosas.

No entanto, o vegetarianismo é um estilo de vida de paz, contra a violência, pela integração, pelo esclarecimento e não pela exclusão, pelo que, na medida do exequível, é positivo divulgar informação, promover o debate informado e educado, fomentar a pesquisa, a informação e tentar agir pelos animais, pela ecologia, pela saúde.





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